ARTIGO: PROBLEMAS SUBJETIVOS: COMO LIDAR?
Problemas subjetivos: como lidar?
A obra de George Kelly propõe o mapeamento de natureza interpretativa para a condução de problemas complexos empresariais.
Por Ronald Concer
Dr. Ronald Concer
A Ciência da Decisão
O indivído faz o que faz não como uma forma de expressão da sua construção do mundo, mas o faz porque ele é impulsionado pelos agentes que habitam sua própria psique.
George Kelly, PhD
Um dos maiores equívocos no meio empresarial está na supervalorização dos pacotes soluções. Embora populares, a efetividade da aplicação requer ambientes controlados ou contextos específicos que pressuponham informações completas: cenários perfeitos dos quais a maioria das empresas está muito distante. A oferta destes “pacotes” ilude executivos com promessas de automatismo ou simplificação de problemas, baseados em recursos limitados a disponibilidade de dados completos ou confiáveis. No entanto, tais tipos de “soluções” não traduzem o aspecto mais fundamental do ambiente corporativo: as relações e critérios empresariais são subjetivos, principalmente nos bastidores das empresas, e impossíveis de capturar baseado nos sistemas tradicionais.
No campo da subjetividade, a forma de representação mais legítima é por meio da linguagem – a moeda comum no cotidiano organizacional. Linguagem, pela natureza humana, expressa o inconsciente de maneira mais idônea do que argumentos abreviados em modelos matemáticos. Para examinar o fenômeno da subjetividade, recorre-se aos escritos de George A. Kelly, em que as escolhas humanas são frutos dos agentes presentes em sua psique, elaborados a partir da organização de experiências em um sistema de resultados desejados. Esta referência é uma alternativa ao tratar da subjetividade em organizações, contrária às tentativas de sintetizar comportamentos em argumentos numéricos das famigeradas soluções computacionais.
A visão de Kelly acerca da natureza humana consiste em dois atributos básicos: a necessidade das pessoas em se relacionar e dar significado a experiências. Para George Kelly, tanto o entendimento quanto o relacionamento ocorrem ao passo que o indivíduo se empenha em “dar sentido ao seu mundo”. Tal entendimento sobre o indivíduo compõe um sistema de constructos pessoais, em que o termo “sistema” se refere a um grupo de modelos criados a partir de experiências contrastadas ou comparadas. Estas experiências podem ser conscientes ou inconscientes, e, até certo ponto, são únicas para o indivíduo. Desta forma, a Teoria dos Constructos Pessoais pontua que o “sentido ao mundo” é representado em torno de um postulado fundamental formado a partir de 11 corolários de personalidade. Baseado no postulado, o ser humano escolhe como agir e como antecipar ou alcançar o futuro.
No âmbito organizacional, este quadro é apropriado para auxiliar o trabalho com indivíduos e equipes. Exemplifica-se, por meio do corolário individualidade, como examinar as particularidades de cada executivo na interpretação dos eventos inseridos no mesmo contexto. No corolário sociabilidade atenta-se ao fato de considerar a perspectiva do outro, a fim de ampliar as capacidades enquanto equipe no processo de solução de problemas. Já no corolário comunalidade, Kelly explica que o indivíduo pode buscar semelhanças na construção de experiências com o objetivo de criar consenso e compromisso como equipe.
Kelly estava interessado em minimizar a ambiguidade desvendando o significado por trás do que as pessoas diziam. Ele criou uma técnica conhecida como Repertory Grid, um quadro interativo para a construção de problemas. Mediante a técnica, é possível formular um sistema de constructos do qual o indivíduo assimila seu próprio repertório de elementos. Aqui, elementos são opções, decisões, produtos, pessoas, entre outros. Repertory Grid procura descobrir os atributos psicológicos que identificam semelhanças e contrastes entre os elementos e o seu respectivo efeito em cada constructo, uma vez que tais constructos não dispõem de características fixas ou imutáveis. Na sequência, e somente como etapa posterior, estes elementos poderiam ser analisados numericamente ao descrever situações problemáticas.
Ao considerar os pressupostos da obra de G. Kelly, o Método Zeleny trata a subjetividade por meio da expressão de cada indivíduo. A tecnologia reserva ao executivo a possibilidade de significar, livremente, escolhas ou rejeições, pareadas unicamente em seus particulares, sem a necessidade de justificá-las formalmente. Nesta conjuntura, é explorada a estrutura social da organização – da qual, sem dúvida abrange a subjetividade.