Um dos métodos mais proeminentes do grupo conhecido como Problem Structuring Methods, o Strategic Options Development Analysis (Mapeamento SODA), foi desenvolvido a partir da pesquisa operacional de tradição britânica. Esta metodologia possibilitou o desenvolvimento de um modelo sustentável e quantificável que abrangia o impacto dos custos de ruptura e atraso em um mega projeto. SODA é originalmente adotado em situações de decisões em grupo, as quais são caracterizadas pela incerteza e complexidade, não suscetíveis ao formalismo da modelagem computacional.

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O Caso do Eurotúnel  

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​O Eurotúnel, uma estrutura ferroviária subterrânea de 50,5 quilômetros, conecta a Inglaterra à Franca. Esta estrutura, construída 100 metros abaixo do leito rochoso, é reconhecida como uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno. Este megaprojeto de engenharia abrangeu 13 mil empregados durante os seus seis anos de construção, e resultou num investimento equivalente a 12 bilhões de Libras em valores atuais.

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​A construção do túnel submarino envolveu 15 parceiros, incluindo empresas construtoras, financiadoras e fornecedores dos trens. Um consórcio composto por dez empresas responsáveis pela construção – TransManche Link (divisão francesa), e TransLink Contractors (divisão britânica), eram responsáveis pelo sistema operacional e planos de construção. O projeto foi declarado o maior financiamento privado de infraestrutura até então registrado na história. O financiamento foi realizado por três bancos franceses (Banque Nationale de Paris, Banque Indosuez e Credit Lyonnais), e dois britânicos (Natwest e Midland). 

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​O grupo canadense Bombardier, pertencente ao Euro Shuttle Consortium Wagon (ESCW), foi contratado para fornecer 250 locomotivas especializadas – vagões de passageiro para o Le Shuttle, o sistema ferroviário do Eurotúnel. A Bombardier iniciou a produção destas locomotivas em suas subsidiárias europeias (Bélgica e França) em parceria com a italiana Fiat Ferroviaria.

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​Tendo em vista preocupações com a segurança do sistema ferroviário, TransManche Link (TML) apresentou mudanças nas especificações do design dos produtos. No entanto, tais modificações foram apresentadas após a assinatura do contrato entre a Bombardier e TransManche Link, embora as plantas e processo de produção dos vagões de passageiros já se encontravam em estágios avançados. A remodelagem exigida pela TransManche Link exigia mudanças nas portas, as quais causariam custos extras para os veículos. A Bombardier requisitou um custo adicional de 3.4 bilhões de francos [3] para cobrir a modificação do design nos produtos. Adicionalmente, havia numerosos itens de documentação de especificações destes veículos. A situação piorou drasticamente em função dos frequentes atrasos ocorridos pela TransManche na aprovação da documentação. Além disso, diante do cenário incerto, a Bombardier anunciou publicamente a interrupção da produção dos vagões.

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As partes enfrentaram um impasse que alcançou uma disputa de dimensões gigantescas. Determinado a retaliar de todas as formas, o chefe executivo da TML acusou a Bombardier pelo atraso na abertura do Eurotúnel. A situação tornou-se critica para a Bombardier, pois esta possuía uma garantia de desempenho no valor de US$ 2 bilhões, e permitia ainda que a TransManche rescindisse o contrato. Por outro lado, a situação financeira da TML estava estrangulada e, neste ponto, substituir o fabricante implicaria atrasos adicionais, uma vez que a inauguração do túnel não poderia ocorrer sem os vagões.

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A ​Bombardier exigiu uma compensação judicial pelos custos incorridos. Com o objetivo de preparar o processo judicial, a empresa contratou a consultoria para auxiliá-los a desenvolver um modelo a ser usado perante as autoridades. Os executivos esperavam que os consultores utilizassem a metodologia conhecida como System Dynamics – um modelo de simulação computacional – uma vez que tal ação era notória em busca do sucesso em casos judiciais similares. De fato, os executivos acreditavam que esta seria a forma mais convincente de justificar a questão. A empresa solicitou uma compensação de $ 746 milhões [3], relacionada aos custos de ruptura de contrato e custos de atraso. Os valores incluíram danos à imagem e reputação da Bombardier.

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Durante as sessões de aconselhamento, a Bombardier conheceu o mapeamento SODA: uma abordagem baseada nas metodologias de mapeamento cognitivo para lidar com problemas complexos. Inúmeros executivos, incluindo advogados, gerentes e outros membros da ECSW foram entrevistados. O uso do mapeamento SODA capturou as idiossincrasias específicas de cada membro da equipe de tomada de decisão. Os recursos de interação e todos os problemas foram validados com os executivos mais experientes.

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O produto final foi denominado modelo Bombardier-TML: um instrumento que permitiu a interação e consenso entre as partes envolvidas. O mapeamento SODA proporcionou uma reavaliação da situação e também a expansão do ponto de vista em todos esses participantes.

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Como resultado, o modelo Bombardier-TML serviu como um dispositivo detalhador e facilitador para esclarecer a situação. Originalmente, o modelo foi projetado para ser usado na situação judicial. No caso de um juiz desmentir algumas partes do processo e não outras, o instrumento seria usado para fornecer novas estimativas de custo.

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Ambas as partes chegaram a um acordo sem a interrupção do projeto e a reivindicação foi resolvida fora do tribunal. A Bombardier recebeu uma indenização e a entrega dos veículos de transporte foi retomada. A empresa recebeu cerca de US$ 400 milhões, incluindo ações do Eurotúnel. Embora o valor da compensação tenha sido menor em comparação à reivindicação original, a reputação da Bombardier foi promovida devido à da sua tecnologia sofisticada, e o acordo entre as partes permitiu a conclusão do projeto.

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Notas:

[1] do qual deveria cobrir o projeto e a construção, que incluía o fornecimento do sistema operacional

[2] 575 milhões de dólares naquele período.

[3] Em torno de US$ 1.3 bilhões em valores atuais (2019).